quarta-feira, agosto 31, 2005

Ascendente em Touro



O Ascendente tem relação com sua aparência física e com o jeito que você se apresenta aos outros. Você que tem o Ascendente em Touro, possui características desse signo seja em seu comportamento que em sua hereditariedade física. Você tem tendência a procurar segurança tanto do ponto de vista material quanto emocional. Não gosta que as coisas sejam feitas de forma apressada e precisa dar um passo após ter estudado muito bom onde pôr o próximo. A paciência típica do signo de Touro pode transparecer em suas maneiras e suas ações demonstrando calma aparente. No entanto, seu temperamento de Terra é nervoso e excessivamente preocupado. Você se expõe intensamente aos relacionamentos emocionais, agindo apaixonadamente e de forma possessiva com o ser amado. Este signo no Ascendente confere beleza e poder de atração, mesmo em homens. O rosto é bonito, redondo, com traços firmes, boca bem desenhada e seu corpo é troncudo, demonstrando firmeza. Você é uma pessoa ambiciosa, mas gosta de dar um passo de cada vez. Precisa muito da segurança conferida pelo dinheiro e é normalmente um bom administrador de seus bens. Você é muito sensual e adora ser acariciado e tocado. A possessividade taurina pode se manifestar em relação aos seus parceiros dos quais exige devoção total. Você precisa tomar cuidado com o ciúme excessivo e aprender a desenvolver o desprendimento das coisas materiais. O Ponto frágil em seu organismo é a garganta, a boca e o pescoço. As mulheres especialmente precisam observar o bom funcionamento de sua tireóide.

segunda-feira, agosto 29, 2005

Show Sexta Super com brincando de deus e Sangria


Show Sexta Super com brincando de deus e Sangria
Dia: 02/09 (Sexta-feira)
Horário: 22:00
Local: Zauber (Ladeira da Misericódia - atrás da prefeitura - Centro)Ingresso: R$ 10,00
Informações:bigbross@terra.com.br / (71) 8116-5322


Show de rock com as bandas Sangria e brincando de deus, sexta dia 02/09 as 22h na ZAUBER. Os djs Messiah e Bigbross animam a pista antes do show e nos intervalos. Esse deve ser um show memoravél pois parte dos integrantes da brincando de deus (Cezar Vieira e Tiago Aziz) estão de mudança pra SP o que deve deixar a banda sem tocar durante um tempo em Salvador. E não se precupem nem de longe a banda pensa em acabar. A produção do novo cd, segue em frente com registro ao vivo que será gravado no domingo dia 04/09 (maiores informações em breve).
Já a Sangria vem com tudo acaba de ter o clip "Capotagem" (Marcos Pessanha) estreado na Mtv, está finalizando o primeiro cd e viaja pra uma mini tour dia 13/09 que começa em BH dia 14/09 (a obra) e termina com dois shows em SP na Outs e na Bunker 15 a 17/09, terminando aqui em Salvador dia 23/09 na zauber com The Honkers e convidados.

quinta-feira, agosto 25, 2005

Festa de japas


No dia 27 de agosto, sábado, a Associação Cultural Nippo Brasileira de Salvador (ANISA) estará promovendo mais uma edição do Bon-Odori de Salvador. Será a décima quarta edição desta grande festa que é o maior evento da ANISA.

A festa será na sede da AABB (Associação Atlética Banco do Brasil) - Av. Orlando Gomes, 1094 e iniciar-se-á a partir das 17 horas.

Bon ou Obon é um dos festivais de verão no Japão e período em que os familiares dirigem-se ao cemitério levando oferendas de alimentos e outros gêneros a seus ancestrais, orando pela felicidade de suas almas no outro mundo.

Na crença do povo nipônico, acredita-se q os espíritos retornam à terra uma vez por ano no dia do Obon. Ocorre de 13 a 15 de agosto e, durante esse período, pode ser vista nas cidades, vilas e aldeias a dança folclórica chamada Bon-Odori.

No Bon-Odori de Salvador são montadas várias barracas q vendem diversas comidas típicas japonesas e brasileiras:makisushi, udan, tempurá, yakisoba, dentre outras.T odas comidas típicas, além das bebidas, estarãoà venda por preços q variam entre R$1,50 a R$13,00.

Os organizadores informam que será cobrada a entrada no valor de R$4,00 e as mesas serão alugadas. Além das barracas, o que atrai os visitantes é a dança folclórica, em q todos os visitantes, japoneses ou não, dançam ao redor do Yagurá(torre) ao son do Taiko (instrumento de percussão tocado p/ dar ritmo).

segunda-feira, agosto 22, 2005

Velas e vinho



Acordo de manhã, coisa de três da tarde, mais ou menos. No chão do banheiro. Uma cara estranha no espelho e parece que tem fiapos de alguma coisa roçando a minha língua

- Que porra é essa?! Mais uma ressaca.

É bem conveniente checar meus rins (Ok, estão os dois lá, não vi nenhuma cicatriz). Desconfio destas lendas urbanas, já que não sei como cheguei ao banheiro... Não é nada, passa logo. Preciso apenas de um café, uma blusa com botões, calça, maquiagem para a próxima noite e minha porção mágica.

(o telefone toca)

Daqui, o meu silêncio.

- Alô! Clara? Me pega às nove?

- Não dá, estarei presa na minha crise habitual.

- Sua crise habitual é uma ova! Não venha, não! Te passo cuspe à cara, nigrinha.

Tudo é sempre assim, tão igual. Não consigo dizer não a minha irmãzinha, não surte efeito quando faço. Caralho!! Foda-se Freud! Voltando a mim. Eu, Riga Baladhievna, transparente como meu último copo de vinho, sonho em sair deste círculo de vício. Prometo a família que renego, aos escravos que ainda terei, aos amantes de todos os verões, que esta será minha última noite. Planejo valsar sozinha, tomar um repugnante uísque com vodca e gelo. Vou voar da janela do meu apartamento. Vai ter frango no forno e suco de laranja para os primeiros peritos.

Podem levar também as minhas jóias, não figuram mesmo como meus pertences oficiais. Nunca mais serei Clara. Sou russa, mas ninguém acredita.Te amo e todo mundo ri. Agora, quero dizer, depois do banho e de pôr aminha melhor roupa, virarei comida de verme e assunto para a Patrícia Mello, talvez.

Dou meu fim à idiotia e história por um tempo, minha última arrogância. Não que eu quisesse ser feliz, como todo mundo. Ouvi muitos mitos, mas não pleiteio virar mais um. Só estou aqui, assobiando a minha música predileta, não consegui pensar em outra coisa. Vai ser mais digno sonhar com asas do que virar uma crente, ter um testemunho, que nem sei qual seria.

É assim, fim!

Ainda não! Quero que saia de dentro de mim esta outra pessoa, quero que goze e que cheire a sândalo. Venha! Suba aqui! É hora das velas e dos vinhos. Aumente o som. Mais alto! Coma as panquecas que te preparei, largue este livro, não ria de mim, Riga!

Esquece, vamos tomar um banho e ganhar a gravidade.
- Clara, vaca da patagônia. Você vem, não é?? Às nove, puta!

- Meu nome é Riga!

domingo, agosto 21, 2005

Um exército de brasileiros para Bush


Não há realmente vida se quer indispensável. Mesmo que para uma guerra estúpida, onde um suspeita do outro e todos brincam de forte apache. Eu teria uma listinha à disposição com quase de tudo, já que as baratas resistem até a explosão de bomba H. Mas, com certeza, figurando no topo estariam os infernais vendedores de pamonha. Se existe uma classe que merece o total extermínio, ei-la!
Essas criaturas, que ninguém sabe se partem de Deus ou do Diabo, aparentemente não defendem causa política ou lutam por algum ideal.Vivem apenas para sacanear com a vida da humanidade, mas que ninguém sabe ou já foi catalogado ser esse um comportamento proposital ou se se cumpre algum ritual de sobrevivência da espécie.
É um tal de zoar na janela do pobre farrista, pleno domingo de manhã; apavorar velhinhas cardíacas nas esquinas e passar adiante uns bolinhos de mandioca azeda ou de milho (todos os ingredientes da pamonha são desconhecidos pela maior parte da humanidade). Tudo isso realizado a partir da omissão das autoridades de fiscalização sanitária, que há décadas, não tomam qualquer providência para, pelo menos, amenizar o problema enfrentado pela população brasileira, pois, pelo que se sabe, não há registro de atividade desse grupo em outros países.
Teorizo que a reprodução dos pamonheiros seja através de cissiparidade ou talvez como aquela dos gremlins. Não há explicação mais plausível, já que não é impossível encontrar indivíduos desse espécime em qualquer esquina das grandes cidades, pelo interior do país, munidos de sua indumentária waldicksoriana, circulando em carros de som (verdadeiras máquinas demoníacas) ou empurrando carrinhos com aquelas buzina à la Chacrinha.
Vencidos pelo cansaço e por não visualizarem uma forma de acabar com estas criaturas, os brasileiros parecem ter incorporado a figura do vendedor de pamonha a sua cultura. Não podemos deixar de admitir o apelo indigenista dos bolinhos cozidos na palha do milho, que revigoram nosso ufanismo e também atestam que são realmente gostosos, ainda que seja um preço alto a ser pago.
Quem nunca se aborreceu com a lobotômica expressão: "olha a pamonha, fresquinha, quem vai querer?" Que atire a primeira pedra. Mas quem conhece um pamonheiro, que o aliste para o exército de Bush.

sábado, agosto 20, 2005

E eu nem sinto saudades


Não posso dizer que as coisas mudaram de gosto.
Por nada disso posso te culpar.
Queria mesmo que tudo tivesse outra cor ou cheiro.
Que não restasse mais nada de você.
- Nem posso te xingar, coisa!
Ainda que me responda daí, não poderei te beijar ou bater.
Não sei se vai rir de mim, se riríamos...
Continue mandando essas cartas e a fazer doer deste jeito.
- Espere, quando te pegar, te espanco!
Por sua vontade sou hoje sumista, apenas.
E assim você o é também agora, por minha única vontade.
Que passe rápido.
Antes que a idéia se perca.
Mais rápido, antes de eu esquecer do teu rosto.
* um dia de Espanha, dedicado aos bons amigos.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Um blog com os espíritos

Eu nunca quis me tornar produtora, sei a fama de merda que todos têm. Aliás, a profissão é assim conhecida: produtor é um diretor frustrado, vai ficar carregando elefante no estúdio se assim o chefe quiser. Mas droga! Eu não tinha dinheiro, nem conhecia ninguém nessa cidade, se só assim conseguiria tirar o sonho para o mundo real, eu tenho mais é que topar!
Putz, a merda do salário paga mal a minha alimentação, tenho que dar um jeito pra me vestir, quem sabe com roupas de brechó?? E roupa usada tá na moda, dizem que há uma onda retrô. Hummm, essas roupas estão tão caras... Ainda tem aquele bazar do exército da salvação, calças furadas à bala, coturnos, bolsas super estilo, sei lá. Eu dou um jeito. Agora é pensar em como pagar o aluguel. As kitnetes das mais abafadas, aqui do centro, saem ai por no mínimo uns R$ 300,00 e os locatários putos, ainda têm a cara de pau de cobrar condomínio. Vou pedir de adiantamento, será que eles me fariam essa graça?? De qualquer sorte, posso passar a mão na poupança.
- "Poupança é pra uma emergência, minha filha!"
- Ih, mãe... sai da minha consciência que até pra um doce eu já tirei grana desse fundo deemergência, além do mais, meu estado é emergente.
Ahn, tem luz e gás. Céus, como é caro chegar ao paraíso!!! Ainda que seja lá num inferninho, no centro da cidade. Também é lá porque eu ai economizo com a condução. Pode ser até que eu pegue carona numa van da produção...
"Fique esperta, garota! Não faça nada que lhe seja humilhante! Vocêtem diploma, se formou com honra."
Quem é essa voz agora, meu deus! Eu só sou mais uma com um diploma, que nem fala nada. É capaz até dele contar uma piada, formação:cinema. Meu pai mesmo já riu algumas vezes. Sou um clichê. E não há deus no mundo que possa me salvar. Deve ser o tal mundo das selvas de que sempre tenho escutado falar. Paciência. Vou seguir...
Pensava ser tão fácil. Não era simples como ser outra pessoa, em sendo uma atriz. Não deveria ser tão afetada como cenógrafo. Era melhor do que ser tecnicamente chata na pele de um diretor de fotografia. Eu tenho um roteiro, quase um milhão, na verdade. São todos meus soldados, estarão prontos à primeira convocação. Eu vou conseguir, vou vencer aqui. Terei meu nome abaixo do título, num letreiro de cinema. Quero ver quem não vai me amar ou me odiar como mereço.
Eu só preciso tomar um banho agora, é que não tem água de verdade nessa merda de set. Um banho e não serei mais tão otimista, ainda assim, sobrará a dignidade. Vou falar baixo: trabalho na produção. Mas eu faço o melhor que posso.
* Esse texto não traduz a realidade da autora, é apenas divagação de uma vida bem provável.

quinta-feira, agosto 18, 2005

The Honkers Tour 2005

Por Bruno Carvalho, jornalista e guitarrista da banda ‘The Honkers’

28 de janeiro
Enfim é chegado o grande dia. A expectativa tomando conta, afinal seriam 38 dias de rock non-stop por todos os buracos do país, mais Argentina e Uruguai. No caminho até o ponto zero da viagem, a casa do guitarrista, motorista e faz-tudo Felipe Brust, vou recebendo os conselhos da família, sobre os perigos da estrada, e a importância de se alimentar bem durante toda a aventura. No local de partida encontro Dimmy Drummer, nosso batera, e Brust arrumando “Rebeca” (nosso automóvel que, aliás, havia acabado de sair da revisão) para o início da viagem. Saímos do bairro da Pituba em direção a Cidade Baixa de Salvador, onde encontraríamos Rodrigo Sputter (vocal) e Thiago (baixo) e seguiríamos viagem em direção à cidade de Itabuna.
Às 18 horas embarcamos no ferry-boat em direção a Itabuna. Já sabíamos que o show nessa cidade caiu por conta do Carnaval (os produtores não atentaram para o fato), mas lá seriamos bem recebidos pelo amigo Gustavo bypsycho, que nos ofereceu uma estadia fenomenal em sua residência. Antes, uma parada estratégica para abastecimento do veículo, onde Thiago aproveitou para comprar um belíssimo óculos verde numa casa de material de construção, e que mais pra frente renderia uma das melhores histórias da tour. Aproveitamos a travessia da Baía de Todos os Santos para tentar arrumar o carro para a viagem amarrando a lona no bagageiro e socando o restante na mala. O início da viagem foi divertidíssimo, com a moçada falando sem parar no carro. Paramos em um posto de beira de estrada para um lanche noturno, e a sensação de sentir aquele friozinho gostoso depois de tanto sofrer com verão soteropolitano foi indescritível.
Chegamos em Itabuna por volta de meia-noite, em pleno carnaval da cidade. A praça lotada, trios elétricos desfilando e aquele clima carnavalesco no ar. Comemos acarajés de cinqüenta centavos e seguimos para a casa de bypsycho descansar. Infelizmente o cansaço não permitiu que fossemos para a folia momesca onde bypsycho já havia acertado uma entrevista com a afiliada da Rede Globo na região e a cautela rogava para pegarmos a estrada cedo.

29 de janeiro
As seis da manhã já estávamos de pé para seguir viagem. É bonito demais acordar cedo e arrumar o carro ao som de Tede Silva. Havia uma expectativa enorme em relação ao show de Vila Velha. Nossos amigos da Los Canos estiveram na cidade alguns meses antes e nos relataram o quão insano são os roqueiros locais. O trecho da BR-101 no sul da Bahia é, fora de qualquer dúvida o pior trecho de rodovia federal do país. O trecho do Espírito Santo, contudo, é um dos melhores do Brasil. Pena que o Estado é pequeno. Viagem cansativa, longa, mas com outros trechos muito bonitos. Ainda bem que saímos bem cedinho de Itabuna porque chegamos no bar Entre Amigos II - local do show - quando a banda que tocaria antes de nós mandava os primeiros acordes. Só deu tempo de tirar os instrumentos do carro, mudar de roupa, afinar tudo e mandar ver. Foi uma das experiências mais incríveis que já tive a vida. O publico lá é completamente insano, é totalmente inacreditável. Todas as bandas do país deveriam tocar lá. O show chegou a um nível de agitação tão impressionante que eu dei um “mosh” com guitarra e tudo, enquanto Rodrigo, nu, se pendurava de cabeça pra baixo numa pilastra do palco. Depois de nós tocaram ainda Os Pedrero, já com o jogo ganho, fazendo aquele punk rock toscão, mas muito foda. Agitou demais também.
Depois do show, exaustos, seguimos para o Hotel Olympia, pertinho do local do show. Hotel catiguria. Iria rolar um show do Zémaria no dia, mas não tivemos condições físicas de encarar. Saímos eu, Brust e Thiago para um mata-fome perto para encarar um sanduba antes de dormir. De responsa.

30 de janeiro
Acordamos cedo no dia seguinte, fizemos um desjejum fenomenal nas dependências do hotel e seguimos viagem até o Rio de Janeiro. Algumas fotos espetaculares foram tiradas durante o trajeto e posteriormente perdidas pelo nosso baixista e fotografo Thiago “Thilindão”.
Chegamos em Diarréia de Janeiro (como disse cheio de maldade Kurt Cobain) por volta das 19 horas do domingo. Impressionante a beleza da cidade. Fomos direto para a casa da irmã de Dimmy, em Niterói, onde ficamos por quatro dias. Os empreendedores musicais locais não apostaram em shows perto da véspera do carnaval e nos deixaram de molho até o dia dois de Fevereiro. Nesse meio tempo todo tipo de imprevisto aconteceu: descobrimos que o tanque de “Rebeca” estava furado; trocamos também suas molas e um rolamento; consertamos alguns instrumentos e a grana foi acabando aos poucos. Passeios pelo centro de Niterói revelaram algumas casas de instrumentos musicais bem aprumadas.

02 de fevereiro
Dia do show, na famosa Casa da Matriz, onde tocaríamos num baile de carnaval com a Cabaret. Antes do show fomos até uma padaria do lado do evento, tomar umas cervas e comer alguma coisa. Lá conhecemos Natalia, uma menina muito gente fina, e seu namorado Duca, líder da Moobwa, e que nos deu uma força durante o show, além de outros amigos cariocas como Liz (que ficou com nossa máquina fotográfica).
O local do show é bem pequeno e estava bem cheio. Fomos a banda de abertura e o som estava bem legal. Com amplificadores decentes a nossa disposição deu pra fazer uma apresentação bem agitada para um público que na maior parte do tempo só observava. A Cabaret veio em seguida com um rock cheio de referências do glam rock. Uma banda afiada e com um vocalista muito carismático. Pra variar saímos quase de manhã do local. Ver o dia nascer no Rio de Janeiro definitivamente é uma experiência inacreditável. Era o início da parte nons-stop da tour.

03 de fevereiro
No dia seguinte saímos o mais cedo possível em direção a Belo Horizonte. Pra nossa sorte a distância não era tão grande e deu pra fazer uma viagem tranqüila. Chegamos a noite, e nos encontramos com Mocotó, guitarrista da Rock Mountain Fever, que nos recebeu muitíssimo bem em seu apartamento. Depois fomos até “A Obra”, lendária casa de shows da capital mineira. Antes do show passamos numa lanchonete fantástica chamada “Tosco Burger”. Lá eram servidos sanduíches da série “Tosco” que iam do numero I ao VI. Pra se ter uma idéia do quão grande eram esses lanches, se você comesse dois Tosco Burguer VI, mais um refrigerante e um sorvete ganhava 40 reais em dinheiro e outros 40 em crédito na lanchonete. Acho que era isso. Tinha de tudo no sanduíche e ainda era uma delícia.
Na frente da Obra conhecemos Luisa, Isadora, seus amigos e mais algumas outras pessoas legais que foram ver o show. O local estava lotado, mas a nota triste foi que Isadora não pode entrar no show por ser menor de idade. Ficamos todos muito tristes. Dedicamos “Pretty Punk Girl” para ela, e modéstia a parte foi um showzaço, com uma interação foda rolando entre banda e público. Até uma doida subiu no palco em determinado momento do rock, tomando em seguida uma queda histórica. Provavelmente o show em BH foi um dos melhores musical e financeiramente. Vendemos muitos cds e camisetas. Alto astral. Depois do show, fui com Brust direto pra casa de Mocotó, porque o cansaço dava os primeiros sinais. Dormi gostoso nesse dia.

04 de fevereiro
São Paulo, que beleza, adoro essa cidade. Chegamos lá de tardinha, e fomos direto pra casa de Vitor, um amigão meu que nos instalou na casa de um outro amigo, chamado Danilo, que não estava na cidade. Na Funhouse encontrei Eugenio Vieira (que fez umas fotos foda do show) e sua esposa Janaína. Aliás, foi impressionante a legião baiana no local: Leão, Spencer, Joe, Martin, Jan, Boris, Duda, Pitty, Eugenio, Jana, Vitor, Tiana, Tati, e mais uma galera que certamente eu to me esquecendo. O show foi fodaço, gostei muito, e pela primeira vez tive a impressão que nós estávamos nos cascos, tocando perfeitamente. O repertório teve muita coisa antiga e o local estava irritantemente lotado, e deu pra sacar como indie paulista é uma raça muito estranha. Quase ninguém vai pra ver o show, e sim pra ser visto. Mas acho que quem tava lá gostou bastante. Nós saímos 100% satisfeitos pela primeira vez. Quem conhece a região sabe que é local de “trotoir”. Ao fazer o lanche noturno - após o show - um carro estacionado chamou atenção pelo balanço. As “meninas” olhavam e não acreditavam que um casal estivesse transando ali. O cara saiu sorridente e entrou no bar. A menina saiu e veio pedir uma pizza. São Paulo é uma cidade ímpar realmente.

05 de fevereiro
Finalmente podemos acordar um pouquinho mais tarde, já que o show do dia seguinte era em Campinas, distante a menos de 100 km de Sampa. Lá fomos para um churrasco oferecido pelos amigos da Fluid (amigos irmãos a partir de agora). A tarde inteira comendo muita carne (acho que a gente nem lembrava mais o gosto disso, vide a quantidade de coxinhas, mistos e outras besteiras que comíamos pela estrada), enchendo a cara de cerveja e jogando muita conversa fora. No banheiro da casa fomos agraciados por uma foto fantástica de um amigo e fotógrafo dos caras da Fluid. Até o momento a nossa única foto de divulgação. A noite, o show foi no Mondo 77. O local é muito legal, bonito, mas infelizmente tava bem vazio. Era um sábado de carnaval e a cidade estava deserta. Mas mesmo sem um grande público foi um show bem divertido. Segundo os proprietários “melhor que o do Cachorro Grande” até então o melhor show pelo ranking da casa. Depois fomos comer no centro de Campinas, onde experimentei o melhor cachorro-quente da minha vida. Campinas rules!

06 de fevereiro
Pela manhã voltamos à velha rotina de acordar muito cedo, depois de ter dormido menos que o necessário e seguir viagem. Curitiba, lá vamos nós. Pegamos umas estradinhas bem mais ou menos. Inclusive algumas de chão batido. O cheiro de gasolina dentro do carro estava bem forte e foi ficando insuportável. Provavelmente alguma barberagem dos mecânicos niteroienses que colocaram o tanque em Rebeca. Mas não tínhamos tempo pra parar e arrumar. Chegamos a noite bem cansados e fomos direto para o hotel (um muquifo que nem merece ser chamado de pensão, mas de graça, né? beleza, pelo menos tinha chuveiro quente) onde tomamos banho, cochilamos e fomos pro local do show. Tocamos num festival chamado “Psycho Carnival”, onde só rolava bandas de psychobilly e subdivisões, organizado pelo Wallace (Ovos Presley) e pelo Vlad (Os Catalépticos). Lotado de gente. Pra chegarmos ao palco deu uma trabalheira inacreditável. O lugar estava muito quente. Foi um show raivoso, Rodrigo cantou do fundo da alma, com ódio. Foi foda... Tocamos antes dos fabulosos Catalépticos, achando que seríamos massacrados, mas rolou bem demais. Foi engraçado ver aqueles punks e psychobillys enormes, com jubas maiores ainda nos parabenizando pelo show. Um bebum gritava “Vou morrer de aids hoje!”; “tomei uma queda no banheiro”. Instantaneamente eleitos bordões da tour. Depois saímos todos molhados de suor pro lado de fora da casa de show. Temperatura ambiente: aproximadamente 10 graus. Choque térmico fudido. No outro dia todo mundo mal pra caralho, a gripe pegou todo mundo. Foda!

07 a 09 de fevereiro
Seguimos viagem cedo até Porto Alegre. O carro havia virado um ninho de bactérias. Brust muito gripado, e o resto da banda não muito atrás. Comoção geral no carro. Passamos a viagem inteira ligando para Tom, o produtor que estava armando nossos shows por lá. O cara simplesmente sumiu do mapa. Descobrimos que o sujeito estava passando uma temporada no litoral, nos deixando na mão. Dos três shows marcados no Rio Grande do Sul, só rolou um em Porto Alegre. Nessa época também soubemos que o show em Montevidéu (Uruguai) também havia caído. Ah, pra piorar a grana tava indo embora. Numa das paradas para alimentação Thiago acabou esquecendo o lindíssimo óculos que comprou ainda em Salvador.
Chegamos em Porto Alegre e fomos direto para o local do show, uma rotina infeliz. E encontramos o pessoal da Seven2Nine, excelente banda gaúcha que abriria o show. Saí com Brust pra comprar uns remédios pra gripe e comer alguma coisa. Andamos pelo centro um pouco, sentido aquele friozão no ar, e voltamos pra tocar. Porto Alegre também estava deserta. Provavelmente todos foram pra praia com Tom, o produtor calhorda. Guardem este nome. O show foi muito bom, mas o som não era lá grande coisa, e também o público era pequeno - praticamente só o pessoal das outras bandas -, porém agitado. O baiano Jan (Frangote Records) nos prestigiou. Depois seguimos para descansar num consultório médico cedido pelos amigos gaúchos Jamer e Rodrigo. Lá nos foi ensinado como preparar o famosíssimo drink “Iceberg”, que fez sucesso. Dormi numa espécie de bat-caverna muito recomendada para asmáticos como eu.
Dia seguinte seguimos para Guaíba, onde passamos uma temporada dando trabalho a parte gaúcha da família de Brust. Aproveitamos pra arrumar o tanque que exalava cheiro de gasolina no carro, descansar bastante, ir em Lan Houses checar os e-mails, lembrar um pouco da vida de verdade, etc. Pernoitamos na Tia Harlei e zarpamos em direção a Argentina. Cerca de 1500 km nos esperavam. Fizemos a viagem em dois dias. No primeiro, tivemos um pequeno acidente num pedágio que danificou parte da frente de “Rebeca” mas não foi nada demais. Dois faróis e grade quebrados, frente amassada. Dormimos em Rosário do Sul, onde nos deliciamos com o “Pancho” uma iguaria local de muito valor nutritivo. Vulgo: cachorro-quente.

10 de fevereiro
Seguimos viagem em direção a Campana, na Argentina. Por volta do meio dia chegamos em Uruguaiana, último ponto antes de entrarmos no país do Maradona. Uma rápida passeada na cidade, enquanto Brust tentava comprar faróis novos usados pra Rebeca (em vão, uma vez que a grana não dava), eu e Rodrigo descobrimos uma feirinha de camelôs espetacular, que vendia eletro-eletrônicos a preço de banana. Quase saímos de lá com um videogame em mãos e outras bugigangas.
Enfim, atravessamos uma ponte, que mais parecia um portal para outra dimensão e entramos em território argentino. Haviam pequenos hermanitos na divisa que nos encheram a paciência tentando nos vender chocolate e outras besteiras. “Amigo, amigo, um chocolatito amigo??” não paravam de gritar. Tinha um que parecia o Tevez, uma gracinha. O melhor foi quando um deles me perguntou apontando pra Thiago “Frankenstein?”. Não precisa nem dizer que o negão foi sacaneado o resto da viagem inteira, né?
Para entrar no país não é necessário passaporte por causa dos acordos do Mercosul, mas é necessário apresentar documentos e declarações de equipamentos, discos para não sermos acusados de muambeiros no retorno. Brust não estava com a carteira de identidade e, sim, com a carteira de habilitação unificada. O guardinha não queria liberar, mas o ‘presente’ de dois cds foi o bastante. Depois de muita burocracia, seguimos viagem até Campanha, uma cidade satélite de Buenos Ayres, onde faríamos dois shows. No meio do caminho a polícia Argentina nos mostra que não é nada diferente da brasileira. Fomos parados juntamente com um outro carro brasileiro. Os policias tentaram de toda a forma uma maneira de nos levar alguns pesos, e acabaram nos informando que segundo as leis de trânsito locais, era necessário ter dois triângulos no carro. Como só tínhamos um, o filho da puta (desculpem amigos argentinos) nos levou 50 pesos. E mais brindes honkers para os sete patrulheiros. Considerando que o bagual queria extorquir 350 pesos, tabelamos o preço do nosso CD em 43 pesos. Maria Rita perde.
Seguimos viagem e paramos numa loja de conveniência onde compramos outro triângulo. Viajamos mais uns dez quilômetros e fomos novamente parados pela policia Argentina com a mesma conversa mole. O engraçado é que apesar de faróis quebrados e frente amassada apenas o triângulo era questionado. Quando sentimos que seríamos novamente roubados rolou estresse: “Amigo, nosotros tenemos dois de tudo qui ostedes piensar nesse carrito, no tiene razon para nos parar!”. O policial sentiu a fúria brasileña e nos deixou seguir viagem. Ainda tivemos que pagar uma fortuna (não negociável) por um adaptador para podermos abastecer o carro com gás natural (o bico injetor é diferente do brasileiro). Mas nem tudo foi ruim, afinal tudo naquele país é muito barato. O litro da gasolina custava aproximadamente R$ 1,60, o metro cúbico do gás natural R$ 0,50 e a cerveja também tinha um preço bem atrativo - porém com um gosto bem mediano. Apesar das estradas serem bem conservadas os atrasos com a alfândega, policiais corruptos e a caça a um adaptador para o bico injetor do gás fez com que chegássemos na casa de Gugui (um baiano em terras de Gardel), nosso anfitrião, quase duas da madrugada.

11 de fevereiro
Pela manhã uma entrevista numa rádio de Buenos Aires e ao cair da tarde fizemos nosso primeiro show. Ao ar livre, gratuito, promovido pela prefeitura numa praça em Campana. Clima bem família, friozinho gostoso. A banda de abertura, Los Cajos, fez um “rock canção” como eles mesmo definiram, bem bacana, gostei bastante. Tocamos em seguida, e logo no início começou a dar merda: o alimentador dos pedais queimou, mesmo trocando a voltagem pra 220v. Conseguimos uma fonte emprestada e seguimos o rock. Foi um bom show, exceto pelo fato de Rodrigo e Thiago quase terem sido eletrocutados durante umas performances mais exaltadas. O grande momento da noite foram umas crianças entre cinco e oito anos que nos procuraram depois do show encantadas conosco. Pagou toda a viagem.

12 de fevereiro
Dia seguinte, novo show, dessa vez no “Clube de Campo de Campana”. Havia uma certa tensão no ar se haveria ou não o rock, porque os shows estavam proibidos depois do acidente que matou centenas de pessoas numa boate em Buenos Ayres no início do ano. Saímos cedo para passear um pouco pela cidade, procurar uma lavanderia e tomar umas cervas. Fomos em seguida para o local do show, onde nos ofereceram um churrasco. Sabe aquela lenda de que o churrasco argentino é o melhor? Não sei se é verdade, porque o de Campana é péssimo. Começou bem com um pastelzinho catiguria, mas depois... Nos ofereceram uma tal de “tripa gorda” que era a coisa mais nojenta do mundo. Depois do ‘almoço’ jogamos um pouco de sinuca (as caçapas argentinas são o dobro das brasileiras) com nossos hermanos Pablo e Emiliano, e passamos o som.
Durante a passagem de som um grande susto. O guitarrista de uma das bandas da noite, a Malditos Delenua, teve uma overdose ou um mal estar ou um mau súbito na frente do local do show. Desmaiou espumando pela boca. Um susto terrível. O cara lá deitado no chão. Foi foda. Em menos de cinco minutos a ambulância chegou ao mesmo tempo em que um enfermeiro de uma clínica próxima o socorria e o atenderam ali mesmo no local. Final feliz de uma quase tragédia.
O concerto começou com a All the Hats, tocando uma mistura de rock e ska muito legal. Em seguida subimos ao palco pra mandar ver. Tocamos a insanidade nesse dia, alto, para um publico agitado, que dançava feito loucos. Saímos exausto, insanidade total. Depois vieram os Malditos Delenua que fizeram uma apresentação totalmente foda. Todo mundo cantando todas as músicas. Pareciam hinos de toda uma geração. Lindo. Rolaram varias porradas durante o show, a mais impressionante foi um cara chamando uma menina pra porrada. Voadora foi o golpe mais light que eu vi durante os confrontos. Fomos descansar porque a parte cansativa da tour estaria para começar. Já sabíamos, mas não queríamos acreditar.

13 de fevereiro
Saímos de madrugada, bem cedinho de volta a Guaíba (RS), Brasil. Foi uma viagem extremamente desgastante, fizemos aproximadamente 1.500 km em cerca de 22 horas, non stop. Gastamos um tempo enorme na alfândega na volta para o Brasil, disputando espaço na fila com grupos de turistas. Passamos a viagem agradecendo o sumiço do produtor Tom, uma vez que havia um show marcado em Santa Maria e, obviamente, não daria para chegar a tempo. Chegamos, então, ao nosso destino final por volta das três da manhã. Vocês não sabem o quão estressante é viajar de madrugada. E com chuva. E com fome. Estávamos todos exaustos, absurdamente cansados. Nunca senti tanto prazer em deitar numa cama. Santa Tia Harlei.

14 de fevereiro
Seguimos - atrasados - as 4 da tarde em direção a Curitiba. O atraso foi decorrente da troca de outro rolamento de Rebeca e dos faróis comprados com uma grana emprestada com a prima de Brust. Sem grana e agora, endividados. Uma boa notícia foi achar os óculos cintilantes de Thiago dado como perdido no mesmo posto uma semana antes. O povo do Paraná é realmente honesto. Quem iria querer aquela coisa? Pensamos. Mais tensão no ar, viajando a noite e de madrugada, dessa vez com pressa de chegar ao show. Chegamos em cima da hora. Uma e meia da manhã, num bar meio da moda chamado “Era só o que faltava” onde tocaríamos com a Black Maria. Show bacana, cheio de gente bonita. O som da casa é excelente, com uma infra-estrutura massa. Não era exatamente o nosso público, mas quem viu gostou bastante. O melhor foi que fomos em seguida para um hotel ecológico fenomenal, onde podemos descansar a vontade.

15 de fevereiro
O pneu do carro amanheceu no chão e tiramos o dia pra consertar algumas coisas em “Rebeca”, passear pela cidade e tentar acessar a Internet. No final da tarde fizemos um show no Lino’s Bar, o primeiro bar rock de Curitiba, de propriedade do figuraça Lino. É ponto de encontro, happy hour e fim de noite do rock. Fizemos um show com o White Stripes cover. Esquema meio tosco, mas foi um show cheio de energia. Thiago tava bem mal nesse dia, acho que foi ressaca. Público agitando, performance caótica. Depois do show Rodrigo e Dimmy foram ver um show do Relespública, enquanto eu, Brust e Thiago fomos dormir na casa de Léo Barzi, lendário ex-baxista da Mercy Killing. Não precisa nem dizer que eu incomodei a casa toda roncando sem parar.

16 de fevereiro
Seguimos cedo para Florianópolis. Viagem tranqüila, visual bonito. Paramos numa pizzaria astral montada dentro de um avião antigo. Coisa de turista. A cidade é massa, chegamos de noite, só deu tempo de chegar, tomar um banho, e seguir até o local do show. A cidade é linda, fiquei bastante impressionado.
Tocamos num bar muito bacana chamado “Drakkar”, numa parte linda da cidade. Lotado, afinal havíamos saído em matérias nos dois jornais locais. A abertura ficou por conta dos Monstros da Garagem, tocando um rockabilly da melhor categoria. O nosso show foi insano. O lugar estava repleto de beldades, todo mundo agitando pra caramba, som bonito, tudo lindo. Fizemos um rock de altíssima qualidade, me lembro de uns caras sentados numa mesa que não acreditavam na nossa energia. Showzaço. Vários bis. Depois da festa paramos para um lanche, conhecemos um pouco da região e tiramos um cochilo mínimo pra seguir viagem.

17 de fevereiro
Viagem longa em direção a Rio Claro. Brust optou por umas estradas secundárias de uma beleza fenomenal porque a distância seria menor. Só que não contava com as chuvas constantes de dias atrás que derrubou várias barreiras e interditou alguns trechos. Nenhuma placa avisou-nos. Foda. Tivemos que voltar quase 300 quilômetros, o que atrasou muito a viagem. Chegamos ao local do show, mais do que em cima da hora. Fizemos um bom show, apesar de tocar pra quase ninguém. Era véspera do casamento do Pedrinho, o produtor do show. Foi bacana. Além de chegar atrasados ainda incomodamos bastante dormindo na casa do noivo. Esses Honkers são uns malas!

18 de fevereiro
De volta a São Paulo. Conseguimos chegar cedo dessa vez, e nos instalamos na casa do amigo Bruno Lima. Deu pra descansar, reunir os amigos, e ir em seguida pra Outs. O show contou com toda a baianada novamente, mais Jane, namorada de Brust, que viajou de Salvador pra nos encontrar lá. O Boom Boom Chicks, da nossa chefa Debby Cassano (Ordinary Recordings) abriu a festa com um blues-punk muito bacana. Showzão.
Subimos no palco com a casa já lotada e fizemos um grande show, cheio de energia. Destaque para a participação de Joe em “Between the devil and the deep blue sea”. No final nossos amigos baianos Vitor e Danilo invadiram o palco no melhor estilo Tico e Teco e pularam em cima de Rodrigo que acabou torcendo o pé. Loucura perde mermão. Coisa linda.

19 de fevereiro
Dois shows num único dia. Fomos primeiro pra Campinas, onde tocamos no Bar do Alex, com o Del-o-Max e os amigos da Fluid. Um sinuquinha antes do show pra descontrair, umas cervas e pronto, estávamos prontos pro rock de novo. Esquema tosco, mas um bom show, com muita energia e a galera dançando sem parar. Me diverti muito. Cuspidas de cerveja e água encharcaram Rodrigo e alguns desavisados.
Seguimos pra Sampa onde tocamos na Juke Joint com Lambrusco Kids, e mais umas bandas brutais. O público era bem estranho, formado por um monte de punk veio, bem estereotipados mesmo. Acho que não gostaram muito do nosso som não, mas convenhamos que foi um show bem fraquinho, o cansaço foi foda, não tínhamos mais forças pra tocar. Quando acabou tudo, só tinha gás pra ir pra casa, e olhe lá.

20, 21 e 22 de fevereiro
Três dias de folga, já que o show que aconteceria numa boate chamada The Edge, acabou não rolando. Aproveitamos pra rodar a cidade, visitar amigos, fazer algumas compras, passar na Teodoro Sampaio, namorar instrumentos, tentar arrumar outros, descansar, dormir o máximo possível. Fomos num churrasco catiguria oferecido por Joe, Pitty e seus asseclas lá no estúdio onde eles ensaiam. Coisa fina. Demos uma entrevista na Rádio Brasil 2000 no programa do Kid Vinil e ainda jogamos uma partidinha fenomenal de sinuca com a baianada paulistana (Leão, Paris e Vitor da Drearylands + Eugenio Vieria). São Paulo é foda.

23 de fevereiro
Hora de seguir viagem. Dessa vez fomos a São Carlos, onde tocamos com a Eletrofan, banda bem indie, bacaninha. Fizemos uma apresentação massa, num local legal, e com um som decente. Fora uns probleminhas com a guitarra foi tudo ok. A essa altura do campeonato os shows ficam meio automáticos, afinal esse já era o nosso 17º show em 24 dias. Mas quem tá no rock é pra se fuder, já diria irmã Dulce. Pegamos estrada ainda depois do show para dormir em Araraquara. Um desencontro na porta da casa onde dormiríamos nos levou pra bem longe e perdemos horas preciosas de sono. Só conseguimos contactar o pessoal quando estava amanhecendo. Foda.

24 de fevereiro
As estradas paulistas em sua maioria eram privatizadas e pagávamos pedágio com gosto. Com mais um pneu furado recebemos auxílio na Autoban de um funcionário atencioso e prestativo. Na ida para Campo Grande começamos a perceber pequenas baratas no carro. E em uma das paradas para abastecimento Brust encontrou um ninho de baratas debaixo do banco do motorista. Sinistro. Campo Grande é absurdamente quente, chega a ser inacreditável. Chegamos na casa do nosso amigo George Belasco, onde tomamos um banho e fomos jantar num rodízio de pizza. Comemos como animais, o que acabou por nos trazer um grande problema: Misturar comida em demasia + calor insuportável + show agitado = mal estar e dor de barriga. O show foi ótimo, mas no final não havia mais nenhuma condição de continuarmos, apesar do público insistentemente pedir para que tocássemos, e você sabe, se o público pede tem de tocar. Desespero pra mim é isso. Acabamos o show exaustos. A maioria de nós a procura de um banheiro. Desesperadamente, aliás. Pernoitamos na ‘sauna’ de George mas o cansaço ajudou a relevar o clima de Campo Grande.

25 de fevereiro
Seguimos cedo pra Cuiabá, onde tocamos no pátio da Universidade Federal local. O calor tava um pouco menos infernal dessa vez, mas ainda assim, insuportável. Financeiramente falando essa foi a parte crítica da tour, pois além da grana curta, não havia postos com GNV (Gás Natural Veicular) para abastecer o carro, e a gasolina custava em media R$2,99. Um absurdo! O gás natural é encontrado com facilidade nas capitais. No interior é mais difícil, mas nas regiões Centro-Oeste e Norte só é encontrado em Campo Grande. Tocamos com mais uma cacetada de bandas, fizemos um show bacana para um público empolgado e receptivo. Foda é que dormimos apenas uma hora, e teríamos no dia seguinte uma das viagens mais longas e cansativas da tour, até Goiânia. Todo mundo exausto no carro para mais um dia de aventura. Se bem que o carro era bem melhor que o local que nos arrumaram pra dormir. Ainda bem que tivemos que sair cedo. Além de tudo a produção não pagou o cachê e a gasolina ficou bem mais cara. Vou pensar duas vezes antes de voltar. Aliás, várias vezes.

26 de fevereiro a 28 de fevereiro
Fomos para Goiânia, onde tocaríamos numa mostra de cinema no Teatro Martin Cererê (mesmo lugar onde acontecem os festivais Bananada e Goiânia Noise. Viagem cansativa. Chegamos bem tarde, achamos até que não conseguiríamos chegar a tempo, mas como sempre chegamos na hora do show. Uma rotina desgastante. A estrutura do lugar é fenomenal, com um camarim gigante, banheiro limpo, e um som ótimo. Estávamos todos muito empolgados e querendo fazer um grande show. O começo foi matador, com uma seqüência de músicas mais agitadas, mas o cansaço dos poucos dias dormidos acabaram pesando no final. Mesmo assim foi um show muitíssimo legal.
Saímos satisfeitos para o hotel - aliás, muito bem recebidos por Fabrício Nobre e Léo Bigode, profissionalismo ao extremo - onde descansamos tudo o que podíamos e pegamos aquele café da manhã campeão antes de seguir mais de mil quilômetros de viagem até Vitória da Conquista onde tocaríamos com os Astronautas. Yeah! Grande produção de Gilmar, o mobilizador do rock em Conquista. Era o início da etapa nordestina da tour. Ainda em Goiás tivemos um pequeno problema na estrada, onde furamos dois pneus de uma só vez. A lenda diz que ao ouvirmos o cd do Cascadura esses pneus furavam. Apenas uma alegoria porque já haviam furado dois antes de Joe e Martim nos presentear com a bolacha quando da nossa passagem por Sampa. Um dos melhores discos do ano. Foi trilha sonora da tour com certeza. Assim, o primeiro show da tour que não conseguimos cumprir foi o de Conquista. Mil desculpas. Contudo, a sorte estava conosco e a menos de um quilometro havia uma pousada, Posto Gigante da Serra com preço mais que simpático, com tv a cabo, água quente, ar condicionado. Força dos pneus feita, comemos um buffet gostoso, aproveitamos para ver a entrega do Oscar e descansamos bastante. Entramos na Bahia, mas não voltaríamos ainda pra casa, pois no dia seguinte haveria show em Teresina. Tínhamos, então, tempo de sobra para o próximo compromisso, mas a estrada ainda revelaria surpresas: a primeira no município de Luis Eduardo Magalhães, uma das melhores estradas do planeta. Excelente para o escoamento da soja plantada na região; a segunda (e triste) é que as outras estradas baianas são disparadas as piores do país. Pousamos na cidade de Formosa do Rio Preto (BA) perto da divisa com o Piauí, comemos uma pizza legal e no dia seguinte fomos para a capital deste estado.

1 de março
O Piauí é um estado quente, MUITO QUENTE. O calor algumas vezes beira o insuportável. A divisa do estado é separada por uma barreira no posto da Polícia Rodoviária Federal (mais pela quantidade de vacas e cabritos que pastam do que para controle). Fomos abordados por um patrulheiro e logo depois por um fiscal que nos ofereceu cachaça e ensaiou pedir propina, mas desistiu e nos mandou seguir viagem. Estrada surpreendentemente boa até certo trecho, depois a buraqueira tomou conta. Chegamos em Teresina, tendo a certeza que não haveria ninguém no nosso show. Afinal, tocar numa terça-feira é foda em qualquer lugar do Brasil. Pra nossa surpresa encontramos uma casa cheia. Lado2Éstereo e Káfila fizeram as honras da casa. Tocamos por último, num som ruim, mas foi fenomenal perceber o interesse das pessoas pela banda, agitando em todas as músicas. Final do show, todo mundo exausto, fomos descansar e para a nossa surpresa a temperatura marcava 31 graus a 1h30min da manhã. Impressionante. A hospitalidade do nordestino é impressionante. Fábio – o organizador do show – e sua esposa Fernanda nos cederam sua cama de casal para mim e para Brust. Pombinhos. Outra boa notícia: já poderíamos abastecer com gás natural. Ufa!

2 de março
O destino agora era Fortaleza. Chegamos lá relativamente cedo e podemos contemplar a excelente infra-estrutura do Hey Ho, casa de show que tocaríamos. Um banheiro excelente onde todos tomamos banho. E camarim que deu pra dar uma relaxada. A banda de abertura fazia seu primeiro show, e assim como nós, tocou para os familiares e quase mais ninguém. Mesmo assim fizemos o mesmo rock de sempre. Valeu pelo som fenomenal do lugar. Alguém disse que foi “o melhor show que Fortaleza não viu”. Bebeco, proprietário do estabelecimento rock, hospedou-nos em sua casa depois de um sanduba fantástico.

3 de março
Pela manhã visitamos os tios de Brust que se indignaram porque não nos hospedamos lá. Pessoal simpatissíssimo. Seguimos até Natal e fomos muitíssimos bem recebidos pelo produtor Glauco, com direito a pousada ecológica e rango fenomenal (o melhor da tour). Tocamos com excelentes bandas como Jane Fonda, Bugs e Automatics. Show divertidíssimo. Casa excelente. Público morno.

4 de março
Inicialemente faríamos dois shows no mesmo dia (João Pessoa e Recife), mas infelizmente o segundo acabou não acontecendo. Fomos recebidos na capital paraibana por Eddy, baixista/guitarrista de várias bandas locais (Chico Correa, Zefirina Bomba, Flávio Cavalcanti, Musa Junkie, Zackarias Nepomuceteno, Star 61, ) que nos ofereceu uma espetacular Feijoada. Acho que essa altura a gente nem lembrava mais o que era isso. Depois de uma rápida passeada pela cidade, duas entrevistas e umas cervejas já estávamos preparados para o rock. Tocamos com os amigos-irmão pernambucanos da Rádio de Outono e os espetaculares Musa Junkie (melhor banda que tocou conosco na tour, na minha opinião). Um dos melhores - se não o melhor - show da tour. A empolgação no local beirava a insanidade, com destaque para Jurubeba, o mala que ficou enchendo o saco de todo mundo o tempo inteiro. As pessoas não queriam nos deixar parar de tocar, foi inacreditável. Saímos de lá mais do que satisfeitos. E incomodamos mais uma família com nossos roncos e trejeitos baianos.

5 de março
Partimos para Aracaju de manhãzinha. Chegamos no local do show em cima da hora para aquele que seria o último show fora de casa da tour. Todo o cansaço desapareceu quando vimos uma horda de moleques com camisas da banda no show, que sabiam cantar as músicas, e empolgadíssimos porque estávamos de volta a cidade (desde o Punka). Pena que o som muito ruim não ajudou em nada a festa. Tocamos com energia, mas a péssima sonorização acabou com que fizéssemos um show apenas razoável, e olhe lá. Rodrigo quase morre eletrocutado pela segunda vez na tour. Perigo! Depois do show fomos descansar, já ansiosos com a volta pra casa.

6 de março
Último dia, último show. Chegamos por volta das 17 horas em Salvador. Só tive tempo de ir pra casa, dar um beijo e um abraço nos familiares, tomar um banho, comer alguma coisa, e já segui pro Calypso. Show bacana, alto e cheio de energia. Revimos os amigos, contamos as histórias da tour e no final aquela sensação de dever cumprido. Depois de rodarmos 17 mil quilômetros em 38 dias, só queria voltar pra casa. Mas no próximo, com certeza tem mais.
Confissões de Ronald Reagan
A vida era muito difícil para Celina Mendes, mesmo antes da pneumonia asiática, de ter guerra e fome no mundo; tinha que conviver com a paranóia de todos os dias.
Não era apenas o medo constante de ser assaltada, estuprada ou morta, todos nós sabemos como é difícil viver em São Paulo. É a dor e a delícia de morar por aqui. As luzes pisca-piscas que fazem da madrugada uma espécie de árvore de Natal, comida de todos os tipos, sabores e higiene sempre à mão nessa megalópole, que nos acolhe e amaldiçoa. Não bastasse o mal psicológico, ainda tinha que agüentar os pulmões sempre ressecados pela poluição. Acordar e tentar fazer de todo dia, dia diferente.
Não é muito feita de corpo, tampouco os olhos e boca e todo aquele conjunto que ela chama de cara me seduziria, mas eu amo essa mulher! Tanta imperfeição, um pouco burra até e a mania que só me irrita, mais e mais; nada me desfaz o prazer de ter o gosto de maçã à boca sempre que a beijo, encanta-me vê-la dormir. Umas horas de paz, sem as preocupações de onde pôr a mão e o que dizer pra parecer sempre correta. Nesses tempos ela é um anjo.
Nem levo em consideração que me mentiu a idade, quando nos conhecemos, também dissera que era uma alta funcionária de um grande banco. Ela me queria impressionar e eu só podia rir de tanta tolice. Desejava era aquela boceta. Desejava qualquer uma, não tinha mulher há muito, não iria desperdiçar aquele pedaço de gostosura. Vi tudo quando a luz assumiu a transparência de sua saia. Contudo tive que deixá-la embaraçada. Não posso negar minha raça, meu sangue. Pai ou avô nunca me perdoaria por escapar a chance de ser cretino com uma mulher, dá-nos mais prazer quando elas estão a fim:
- Olha só, eu não sei o que você viu em mim, mas vai dando o fora porque eu não uso relógio, não sei as horas. Aliás, tá na hora de você se catar, meu!
- Calma!! Me dá só um cigarro, vamo ali no bar, só cheguei até aqui porque notei você me olhando muito. Se interessou por mim, né cara?? Não precisa me enganar, não faz cu doce.
- Mulher, tu só pode estar na falta, na secura, como é que pode me cantar assim... com essa cara deslavada, pobre diaba? Vamo ali naquele motel, mas me diz teu nome antes. Quero dizer, nem precisa. Puta não tem nome.
- Pêra lá, eu não vou cobrar nada pra te dar felicidade e meu Nome é Celina.
- Putz, Celina é o nome da minha mãe!! Não tem vergonha de ser tão oferecida??? Celina é nome de anjo.
- Sua mãe não devia ser boa coisa, não te ensinou a não ser puto. Ou será que você é viado??
Não sei o que me deu, acho que deve de ser aquele lance edipiano, sei lá. Só sei que não agüentava ouvir aquela mulher falar assim comigo. Vai ver foi um daqueles ímpetos infantis. Não tive escolha: abeijei. Nem vou dizer como foi gostoso tê-la num lençol de motel barato. Tanto que em poucos dias tava morando com ela, gozando com ela, metendo a mão naquela cara e reclamando como meu ancestrais faziam com as mulheres deles. Ela gostava. Me sustentava, eu tava era alto nível. Aprendendo a falar inglês, só porque ela já sabia, arrumando as lâmpadas queimadas, consertando os vazamentos, as torneiras. É inegável que eu tô numa coleira, mas sabe que eu até gosto??!! E não é que a vaca achou que seria bom termos um filho??? Tá grávida a ordinária. Mas eu esqueço tudo com aqueles beijos de maçã que ela me dá, deve ter sido isso que tava na bíblia, foi assim que o Adão se fodeu. A Eva também era doida, tinha mania de perseguição, essas coisas. Celina é uma Eva, com boceta "free access". Que mais eu poderia querer?? Voltar pra prisão??? Virar uma noivinha??

quarta-feira, agosto 17, 2005

anjo torcicolo



De uma cor prata e alaranjado, desce-me do céu um anjo depenado.
Uma cara de sofrido e uma cicatriz.
Me diz duas frases, sem me desejar bom dia.
Nem consigo falar, nem tento entender.
São apenas dois dias aqui comigo.
Abre o livro, uma bala de hortelã.
Um gemido ou reclamação.
Maçã podre, festa no vizinho.
Dois dias aqui comigo, sem tentar, sem tentação.
Abre as asas de armação de arame, como no presépio da infância, joga bola ou me dá um sorriso.
Fale algo que eu entenda!
Subirei às antenas.
Não, sai daqui!
Vai longe de mim, que você me faz mal.
Vou cozinhar o teu destino com tripas e coração.
Não é justo que te digas anjo e me delegue perdição.

terça-feira, agosto 16, 2005

A cura pelas mãos

[Hoje é mais um daqueles dias trágicos, mesmo. Tem muita gente morrendo nos meus bares, nas cidades que eu gosto ou comendo umas coisas estranhas. O que tem isso de trágico?]
Não lhes digo de robôs, embora só fale ficciosamente sobre os homens, as mulheres de verdade e os objetos no chão ou às têmporas. E daí que saia um tiro?
Desculpem não ter as bochechas rosadas ou um ramo de flores, um sorriso e a felicidade explícita nas letras. Não formulei nada, mas confio é na lei do caos: "uma parte é sempre a cópia fiel do todo". Não fui quem disse, mas é óbvio que compartilho. Meus dentes só enfeitam o espaço quando vou ao dentista.
Tudo bem. Nem assim lhe tenho raiva. Suporto você que tão bem me admite. Só que paremos por ai. Estou com dor de dente e tendinite, não rezo pra nada, mas tive que arrancar a fitinha do senhor do bonfim do punho. Eu sugeriria paletó, gravata, um café simples, pouco açúcar. Nada de açúcar. Eu tô com dor de dente, já disse.
Vou lá naquele texto que me diz de uma valsa vienense, talvez tire Riga pra dançar. Estou sem fome, mulher me dá é sede. Uma champagne, por favor!
Esse é o Eugênio. Persegue-me à noite, não me deixa dormir. Tem sempre umador nos importunando, ainda que seja nele. A cura é sempre um labirinto.Teria que procurar, falta paciência. Um dia, quem sabe, alguém me livre dele. Cadê os tostões para este serviço??? Teria que ser algo profissional, magnífico.
Não quero mais essa pessoa na minha cabeça rodando e rodando, não vou ressuscitar a Riga, ela que decidiu morrer, foi covarde ou também já não o suportava mais.
Alguém ai para tira-lo de mim?? Eu é que sinto todas as dores. Ele entra tão bem na minha cabeça, descreve todas as sensações, obriga meus lábios ao uísque, que detesto e fala de todas as traições, das decepções. Saco!!Chega!!

segunda-feira, agosto 15, 2005

Jorge Vacilo is dead - uma história sem quadrinhos
Seguia a vida por ai, suportando as piadinhas toda vez que se apresentava, mas o fato é que, até a noite de 15 de dezembro de 1992, nada lhe ligaria ao sobrenome.
Não que se julgasse um sujeito espertão, era só pro "vacilo" ser um pouco demais. Pois bem, nunca na vida tinha sido assaltado ou alguém tivera passado-lhe a perna, a não ser as coisas normais e corriqueiras, como o voto num político, por exemplo. O certo era que levava a vida com muitas mulheres, um tanto de bebedeiras e um outro de drogas, nada que fosse maior do que ele.
Já havia penado na escola por não levar a sério letras, números e poesia a sério, nem mesmo a pintura tinha seu interesse. Decidiu ser contínuo, engraxate, garçon e fazer um concurso público depois de uma viagem mezzo hippie ao Caribe e México.
Tudo bem. Ganhava um salário mediano e vivia nas mesmas condições. Nunca uma garota rica o olhara, nem mesmo por pena ou desdém. Não que isso o incomodasse, mas sentia a mesma necessidade de contar as vantagens que todos os machos costumam, nas rodinhas de bar, mas achava que deveria ter uma história-base pra ser melhor nas outras tantas. Nada!
Jorge aprendeu a tocar violão, graças a um comparsa de beck, lá detrás do Farol da Barra. E não soube como, talvez por mágica, o som foi chamando a poesia dentro dele. Daí pra apaixonar as menininhas foi questão de saber apenas onde elas estavam. E assim, uma a uma, foram caindo; vítimas dos seus acordes e letras. Não era raro ouvir que se tornaria um grande músico, que logo, logo uma grande gravadora o descobriria e seu sucesso seria certo.
Ele não deixava de se divertir com isso, mas além das meninas, a música só tinha entrado na sua vida pela possibilidade de sempre ter com quem dividir um baseado do bom. No mais, se ocupava com revistas em quadrinho, o Homem-Aranha era o predileto. Também não era nada mal conseguir uns trocos cantando no shopping, mesmo que alguém ali na praça de alimentação o ouvisse e gostasse ou o enchesse pedindo as músicas mais piegas da história. Digamos que isso foi um teste, um laboratório. Porque chegou o dia em que a gravadora bateu a sua porta, foi o tal dia quinze, naquele ano fatídico. Nem lembra direito como, mas fora instruído por ela a dizer nas entrevistas que tinha sido um árduo caminho etc.
O que importava agora é que era um compositor no Brasil, casado com uma linda menina, que lhe dera um lindo filho. Tinha shows em tantas cidades, bebias às custas de "não sei quem", aparecia nos programas populares, vestia ternos caros com tênis, se tornara amigo do Zeca Baleiro e até compôs uma música sobre um "Homem Aranha". Pra mim, ele nunca esteve tão morto.

domingo, agosto 14, 2005

Se eu te encontrar numa esquina?
Se eu te encontrar numa esquina?
Nem penso direito: te beijo!
Dou-te tempo só de fechar os olhos.
Ai vem o roçar de línguas, mãos que caem na dança, corações num único compasso.
Corpo meu que pulsa e você fica mais perto e mais perto e...
Eu não tenho que te deixar agora.
É estranho, mas a esquina acaba assim:
Uns olhares, dois acenos.
Mas na hora que te encontrar, nem que Deus peça eu te largo!

sábado, agosto 13, 2005

MEU TEMPO É UMA NÊSPERA
Doce.
Só posso dizer do tempo que tive:
Amei quem quis, ainda que sem saber direito lá o que é e era o amor.
Ao tempo não se suplanta qualquer palavra, mas eis que se cala ao sabor de um beijo.
Por isso mesmo meu tempo é uma nêspera:
Às vezes gosto
Outras tantas, enjôo.
Mata a sede e subjuga a ansiedade.
Não gosto tanto da fruta.
Pior são as horas que passo, aqui, tão só.
São quatro paredes num planeta redondo.
Quando tudo deveria girar e girar, ainda está parado.
E agora esta mordida doce, uma maçã de rosto, uns lábios rosáceos.
Esperam que o tempo seja mesmo como a nêspera anunciada:
Doce.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Eu, confusa

Quando abre a porta do elevador a pergunta é sempre a mesma e ensurdece:

- desce?

Ainda não sei se sou orgânica ou autofágica, mas aqui dentro só temo meu barulho.
Por isso é tão seguro e só zoa por estas bandas quem eu também deixo entrar.
Qualquer um, vindo pelo elevador ou de escada.
Tem a Nina, conhece?
A Nina Simone.
Me fez o desfavor de morrer outro dia...

- Conversa!! Senão, quem é essa tomando todo o meu uísque? Quem canta todo dia p/ mim??

Talvez o Lennon possa me responder.
Talvez, quando ele parar de rir e de rir sempre e sempre.
Mais saudável é a Ângela, apesar de sempre acompanhar o Lennon.
Não saiam do meu ap, tem café e a piscina é aqui dentro mesmo.
Vamos fazer mais música, conversem ai...
Quem sabe eu também entro na dança e no som e vira tudo um nosso barulho??
Não tem vizinho, são quatro paredes brancas, estamos todos à vontade.
Ei, Nina! Como é aquela outra música??
Só lembro que tinha um beijo guardado, aliás, era meu bem sem se importar em estar bem trajado, não é mesmo??
Ali tem dois botões, paralelizados por setas.
Uma de subir, outra de descer.
Ânimo. Desânimo.

quinta-feira, agosto 11, 2005

Menina Má


Todas as coisinhas começam por um motivinho racional. É melhor dizer: quase todas... (manual prático de "como abrir com um clichê" sem ser com as mãos.Nada de novo!!).

Começo com meus olhos fechados. Quando não tenho muita razão nos bolsos,estou de olhos fechados. A cabeça está bem vazia mesmo!! Sinto como se algo pudesse ser maior do eu, por dentro. Também quando não me consigo concentrar, remeto-me às memórias:

Era bom ter 15 anos ou menos e enlouquecer alguém, é muito poder, sabe? Ter todas as tristezazinhas dessa idade e ser um horror também. Cumprir regras... Elas existem e te infernizam. Mas tira partido ai, guria e sinta-se bem com elas ainda!!

Então tá, né?

Naquele tempo, na escola, eu tinha que usar fardamento: uma blusinha branca,calça jeans; sapato azul, preto ou branco.

- "Te alinhas!!"

Como alguém pode ser legal e estar uniformizado, fardado, igual a todo mundo a sua volta??

Droga, parece que é bem difícil ser uma garota transpirando sexo por aqui,né?? Vou achar um jeito...

Estes corredores são tão úmidos, mas faz um calor terrível nesta cidade,como pode?? Infiltração é a resposta mais rápida.

Vamos nessa!

INFILTRAÇÃO, né?

Vou atrás de um bebedouro: putz, tá quente mesmo!! Tem uma fila horrenda!

Não é lá hora pra ser uma metidinha, entra na fila, pô!

Meus olhinhos, trabalhando como os de uma especialista. Ouvi n' algumlugar, ou até li, que "todo especialista é um subalterno!". Ofende um pouco,e ademais, concordo. Sabe d'uma? Não é pelo meu tesão que existo? Então,pronto! Que mais que eu quero??

Mas eu disse que os meus olhos trabalhavam com especialismo...

Não te explicas mais nada, continua!

É que tinha um carinha a minha frente, era de uma turma mais adiantada, mas e dai? E eu tava olhando, sei que ele não percebeu, provavelmente preocupado por a fila não ser muito rápida. Tá, ele é mais velho, ponto pra ele! E...

Tinha uma bundinha, uhu! Ele nem nota, poxa! Esqueci que os garotos dessa idade... Deixam a desejar, literalmente...

Também, porra, olha só o tamanho desse campo de futebol: grama sintética sob uma clarabóia, uniforme novo e toda esta conversa que eles têm no intervalo, quando querem marcar um "bába"!!

Me irrito com isso, mas recuso a competir com um gramadinho de um lance que eu não entendo.

Mas merda, isso tá me cheirando a enrolação... Fala logo, fica ai parada,não! ACTION!!

Que nada, é que me prendi a um detalh... Bom, não é um detalhe, é uma boca rosa, linda e tão fresca, é quase como a água que ele tá tomando. Tinha chegado a vez dele na fila e, Deus, como posso achar tão sexy um cara tomando água no bebedouro? Ele nem percebe que é, ou que está.

Cara, vai lá e te faz perceber, quero ver isso!

- Com licença, você vai ficar ai o dia todo? Ainda quero beber água este ano!!

Merda, isso lá é maneira de se fazer notar??

Clarooo, você perdeu esta aula?? Meninas, primeiro: desprezem meninos!!!

Não sei se isso é muito inteligente, ainda mais para o contato que tu pretendes!!

Dá certo, é assim que terei a atenção dele.

Depende de tu garota, vai lá e convence, o palco é teu.

Gostei disso, palco é o termo, quero me divertir de qualquer jeito.

Não enrola, assim tu cansa.

Não me interrompe, então! Onde parei??

"Com licença" e.... parará!!

Ah, claro! Ele me olhou, levantou a cabeça para saber de quem se tratava tanta arrogância e um pouco de falta de educação.

Não, grosseria!

Adianto que a simpatia se formou, o que você queria?? Que ele me espancasse??

Eu não! Mas por que uma garotinha de farda, como todas as outras, e sendo grosseira?? O desdém parece mais próximo que simpatia...

É, talvez tenhas razão! Não fosse aparecer, como a um letreiro de neon, meu sutiã amarelo por baixo da blusinha branca da FARDA escolar...

Hã? Como?

Deu-me a vez de beber água. Aplaquei o calor. Antes, passei de leve o meu corpo nele, sutileza é a chave!

Desprezo com sutileza?? No mínimo você é doida, garota!

Tomei água e ele esperava. Meu rosto suscitava o desejo nele, todos os meus gestos...

- Gosta de poesia?

Meninos da escola sempre acham que a poesia é o caminho... deveriam usar de verdade, não impressionar decorando alguém, mas enfim, é só sexo, vou entrar na dele:

- O quê? Por que? Gosto...

E agora, meu deus?

Pára! Já pedi para não me atrapalhar, que coisa!

Pegou na minha mão, não me disse nada e não era mesmo hora. Pelo menos, não conseguia ouvir. Nos entendemos mesmo, a linguagem do corpo, saca? Pensei numa maldade: um ratinho, uma ratoeira com queijo e que diabos!! Meu sutiã berrando sob a blusa...

Poxa, anda!!

Tá. Vamos andando, nos afastando das regras, restam as fardas intactas! Quero dizer, ainda no corpo...

Putz!!

Passei a mão pelos cabelos, me entreguei.

Ah, já era! Mas não era guerra, era? Não sei por que, mas você fez entender que sim!!!

Não, não fiz...

Ele fez uma pergunta, era uma estratégia ruim, com outra não daria certo, mas eu queria era aquela boca com água - sem água, abrindo um sorriso para mim. Ele me entendeu, pô!

Sei... Continua!!

É, passei a mão pelos cabelos. Vi o sorriso dele, tava diferente. Diria que era quase inocente, não sei. Ele tava sem saída, mas ainda assim me mandou um fragmento da Florbela Espanca. Foi esquisito, Florbela me pareceu crítica, logo ela!

Talvez fosse tua consciência punitiva.

Um fragmento, já disse. Pedi que me beijasse antes de terminá-lo e atormentar mais, não era hora exata para Florbela ser assim. Daí minha boca achou a desculpa certa para passear pelo seu pescoço. As mãos dele na minha nuca. Não houve tempo, eis que o sinal toca. E quando ele toca o inspetor percorre a escola para procurar filantes. Não me podia deixar ser pega em flagrante. Não hoje.

- Vamos voltar, Laura? Quero ficar mais, mas...

- Outro dia...

É bom manter a esperança nos caras. Mesmo porque, vai que amanhã outras coisas além da farda, do calor e de uma fila me irrita...

Agora, passa a mão pelos meus cabelos e planeja um futuro. Eu, enfio a minha mão direita para dentro do bolso detrás da calça dele, belisco a carne, gosto de senti-la. Seguimos para nossas salas.

quarta-feira, agosto 10, 2005

Michel is dead


Sei que muita gente acha que sou a Riga. Pois então: não sou. Sou Flávia, até onde sei e conheci a Riga numa daquelas noites de balada de que ela sempre falava. Puta perda, a Riga tinha mesmo que se matar?? Queria era dar fim ao personagem, mas não tinha a mínima noção de que moravam todas no mesmo corpo. Corpo lindão, aquele. A mulher era russa. Dizia que não:


"- Sou brasileira até na urina".

Todo mundo perguntava porque ela não adotava um nome mais brazuca, afinal Riga Baladievna não a denunciava como mulher verde-amarelo. E é claro que ela sempre xingava quem se metia neste assunto:

"- Vão dar palpite na casa do caralho!! Ia ser lindo eu me esforçando pra ser alguma coisa que sou. Nem mesmo me esforço para não ser uma figura do que vocês me encaixam, vão se foder!"

Engraçado a mulher vociferar aqueles palavrões sem disfarçar o sotaque. Eu me lembro dela, aquela pele branca, braços enormes e sempre cheios de pulseiras tilintantes. Parecia ter uma boceta no meio da testa de tanto que era sexy, mas como uma coisa sutil, sabe?

Ar blasé, sempre bebendo, oferecendo cachaça às duas da manhã, toda vez que ficava pra dormir na sua casa. Puta, como foi sair da minha vida assim? Não se despediu, não me chamou pra ouvir aquela música de que muito gostávamos... Perdôo-te, porque amizade tivemos aquele "a" maiúsculo entre nós.

Nossa!! Ela me ajudou com aquele cretino do Michel. Éramos eu, Riga e Michel nos divertindo em muitas noites. Muitos cigarros. Ele flertava com ela, que nem ligava, não queria nada como ele: tãovulgar, tão simples. E isso o aguçava, desprezo o deixava excitado, só podia ser. Porque me apaixonei por ele e me beijava, me amava, mas não tirava Riga da cabeça. Não era um segredo e eu estava muito confortável sabendo que Riga o tinha nas mãos assim.

Eu a amava muito mais.

De fato, nunca estivemos, os três na mesma cama. Riga sempre prometia isso a Michel e acho que era isso que mantinha o nosso caso mais duradouro. Seis meses e muito "vinho e vela". Demorou um tanto pra ele sacar que isso não iria acontecer e o chato terminou comigo.

Voltamos outra vez, eu tinha quase que implorado, solicitando que "um amor como o nosso não podia morrer tão jovem".

Eu sou uma burra, estúpida!

Quando violei sua conta de e-mail, fiquei sabendo que ele já estava com outra garota e a levando com o mesmo "roteiro" que tinha representado. Passei meses bisbilhotando. Putz, todas as letras, os erros de pontuação, as coisas patéticas que dizia só pra ganhar a coitada, mas terminava com ela do mesmo jeito e logo partia para encenar noutro palco.

Puto!! Tive tanta raiva dele e queria ter até pena das outras, acontece que demonstrar compaixão me colocaria no mesmo barco. Que éque eu tô dizendo? Estive no mesmo barco!

Eu não queria me vingar: e daí que ele continuasse fazendo isso? Não devo nada à classe feminina, nós mulheres não costumamos nos defender como organismo. Não tinha motivo para odiar as meninas também, eu não o tinha amado, só achei que sim pra o romance fluir mais fácil. Não, não é desdém, é racionalismo. O amor tem facetas dissimulativas, mas eu é que não caio nessa.

A ira me subia, sabe? Sempre que eu lia as mensagens de mais e mais meninas, o achava mais e mais otário. Riga tinha que saber de tudo isso. E soube:

- Flávia, tenho a dose de ressaca exata pro Michel.

- Me conta, Riga?

- Eu enxergo tudo daqui, você não vê?

- Não sei o que você quer dizer, mas o que faço?

Preparamos um showzinho para o cara, uma super noite no ap de Rigae sexo era mais que um convite, claro que ele foi. Amarrei as mãos dele para trás, pediu uma venda e Riga:

- Coragem, cara. Você não quer ver tudo??

Ela me beijou e ele sorriu, acenou que sim e pediu-nos um beijo também. Confesso que até ali não tinha idéia do que podia rolar. Riga sabia que eu queria lhe dar sofrimento. Não na mesma medida, tinha queser dor física.

- Precisamos de uma boa trilha sonora.

E ela coloca um punk rock dos sex pistols, me passa um bastão de beisebol e grita:

- Soca ele, bem na boca, não deve sobrar nem um segundo de falso sorriso na cara!

Obedeci. Era o que Riga planejava desde sempre e o que leu no meu subconsciente. Michel chorava. Lembro de ter achado lindo ver aquele ordinário jorrando sangue, lágrima e de estar perplexo, não entendia o porquê daquilo tudo: horas e horas de pancada e sex pistols, nem eu nem Riga o explicamos, não lhe demos o motivo. Na verdade, Riga nem assistia tudo, estava lá, bem próxima, mas parecia mais concentrada no cigarro e noutra bobagem qualquer do apartamento. Talvez a quantidade de poeira acumulando nos móveis ou a fechadura emperrada da janela. Levantou-se duas vezes: uma para achar outro cinzeiro e outra para me beijar. Rindo dele, sempre.

Amava Riga e não entendo porque se matou. No dia que soubemos do seu suicídio, a casa dela estava impecável de limpa, suas pulseiras no braço do manequim roubado duma loja. Mas tudo isso fica para outra história.

Dedicado à Lóki Tati e a Luiz Fernandino.