Um blog com os espíritos
Eu nunca quis me tornar produtora, sei a fama de merda que todos têm. Aliás, a profissão é assim conhecida: produtor é um diretor frustrado, vai ficar carregando elefante no estúdio se assim o chefe quiser. Mas droga! Eu não tinha dinheiro, nem conhecia ninguém nessa cidade, se só assim conseguiria tirar o sonho para o mundo real, eu tenho mais é que topar!
Putz, a merda do salário paga mal a minha alimentação, tenho que dar um jeito pra me vestir, quem sabe com roupas de brechó?? E roupa usada tá na moda, dizem que há uma onda retrô. Hummm, essas roupas estão tão caras... Ainda tem aquele bazar do exército da salvação, calças furadas à bala, coturnos, bolsas super estilo, sei lá. Eu dou um jeito. Agora é pensar em como pagar o aluguel. As kitnetes das mais abafadas, aqui do centro, saem ai por no mínimo uns R$ 300,00 e os locatários putos, ainda têm a cara de pau de cobrar condomínio. Vou pedir de adiantamento, será que eles me fariam essa graça?? De qualquer sorte, posso passar a mão na poupança.
- "Poupança é pra uma emergência, minha filha!"
- Ih, mãe... sai da minha consciência que até pra um doce eu já tirei grana desse fundo deemergência, além do mais, meu estado é emergente.
Ahn, tem luz e gás. Céus, como é caro chegar ao paraíso!!! Ainda que seja lá num inferninho, no centro da cidade. Também é lá porque eu ai economizo com a condução. Pode ser até que eu pegue carona numa van da produção...
"Fique esperta, garota! Não faça nada que lhe seja humilhante! Vocêtem diploma, se formou com honra."
Quem é essa voz agora, meu deus! Eu só sou mais uma com um diploma, que nem fala nada. É capaz até dele contar uma piada, formação:cinema. Meu pai mesmo já riu algumas vezes. Sou um clichê. E não há deus no mundo que possa me salvar. Deve ser o tal mundo das selvas de que sempre tenho escutado falar. Paciência. Vou seguir...
Pensava ser tão fácil. Não era simples como ser outra pessoa, em sendo uma atriz. Não deveria ser tão afetada como cenógrafo. Era melhor do que ser tecnicamente chata na pele de um diretor de fotografia. Eu tenho um roteiro, quase um milhão, na verdade. São todos meus soldados, estarão prontos à primeira convocação. Eu vou conseguir, vou vencer aqui. Terei meu nome abaixo do título, num letreiro de cinema. Quero ver quem não vai me amar ou me odiar como mereço.
Eu só preciso tomar um banho agora, é que não tem água de verdade nessa merda de set. Um banho e não serei mais tão otimista, ainda assim, sobrará a dignidade. Vou falar baixo: trabalho na produção. Mas eu faço o melhor que posso.
* Esse texto não traduz a realidade da autora, é apenas divagação de uma vida bem provável.
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