segunda-feira, agosto 15, 2005

Jorge Vacilo is dead - uma história sem quadrinhos
Seguia a vida por ai, suportando as piadinhas toda vez que se apresentava, mas o fato é que, até a noite de 15 de dezembro de 1992, nada lhe ligaria ao sobrenome.
Não que se julgasse um sujeito espertão, era só pro "vacilo" ser um pouco demais. Pois bem, nunca na vida tinha sido assaltado ou alguém tivera passado-lhe a perna, a não ser as coisas normais e corriqueiras, como o voto num político, por exemplo. O certo era que levava a vida com muitas mulheres, um tanto de bebedeiras e um outro de drogas, nada que fosse maior do que ele.
Já havia penado na escola por não levar a sério letras, números e poesia a sério, nem mesmo a pintura tinha seu interesse. Decidiu ser contínuo, engraxate, garçon e fazer um concurso público depois de uma viagem mezzo hippie ao Caribe e México.
Tudo bem. Ganhava um salário mediano e vivia nas mesmas condições. Nunca uma garota rica o olhara, nem mesmo por pena ou desdém. Não que isso o incomodasse, mas sentia a mesma necessidade de contar as vantagens que todos os machos costumam, nas rodinhas de bar, mas achava que deveria ter uma história-base pra ser melhor nas outras tantas. Nada!
Jorge aprendeu a tocar violão, graças a um comparsa de beck, lá detrás do Farol da Barra. E não soube como, talvez por mágica, o som foi chamando a poesia dentro dele. Daí pra apaixonar as menininhas foi questão de saber apenas onde elas estavam. E assim, uma a uma, foram caindo; vítimas dos seus acordes e letras. Não era raro ouvir que se tornaria um grande músico, que logo, logo uma grande gravadora o descobriria e seu sucesso seria certo.
Ele não deixava de se divertir com isso, mas além das meninas, a música só tinha entrado na sua vida pela possibilidade de sempre ter com quem dividir um baseado do bom. No mais, se ocupava com revistas em quadrinho, o Homem-Aranha era o predileto. Também não era nada mal conseguir uns trocos cantando no shopping, mesmo que alguém ali na praça de alimentação o ouvisse e gostasse ou o enchesse pedindo as músicas mais piegas da história. Digamos que isso foi um teste, um laboratório. Porque chegou o dia em que a gravadora bateu a sua porta, foi o tal dia quinze, naquele ano fatídico. Nem lembra direito como, mas fora instruído por ela a dizer nas entrevistas que tinha sido um árduo caminho etc.
O que importava agora é que era um compositor no Brasil, casado com uma linda menina, que lhe dera um lindo filho. Tinha shows em tantas cidades, bebias às custas de "não sei quem", aparecia nos programas populares, vestia ternos caros com tênis, se tornara amigo do Zeca Baleiro e até compôs uma música sobre um "Homem Aranha". Pra mim, ele nunca esteve tão morto.