quinta-feira, agosto 11, 2005

Menina Má


Todas as coisinhas começam por um motivinho racional. É melhor dizer: quase todas... (manual prático de "como abrir com um clichê" sem ser com as mãos.Nada de novo!!).

Começo com meus olhos fechados. Quando não tenho muita razão nos bolsos,estou de olhos fechados. A cabeça está bem vazia mesmo!! Sinto como se algo pudesse ser maior do eu, por dentro. Também quando não me consigo concentrar, remeto-me às memórias:

Era bom ter 15 anos ou menos e enlouquecer alguém, é muito poder, sabe? Ter todas as tristezazinhas dessa idade e ser um horror também. Cumprir regras... Elas existem e te infernizam. Mas tira partido ai, guria e sinta-se bem com elas ainda!!

Então tá, né?

Naquele tempo, na escola, eu tinha que usar fardamento: uma blusinha branca,calça jeans; sapato azul, preto ou branco.

- "Te alinhas!!"

Como alguém pode ser legal e estar uniformizado, fardado, igual a todo mundo a sua volta??

Droga, parece que é bem difícil ser uma garota transpirando sexo por aqui,né?? Vou achar um jeito...

Estes corredores são tão úmidos, mas faz um calor terrível nesta cidade,como pode?? Infiltração é a resposta mais rápida.

Vamos nessa!

INFILTRAÇÃO, né?

Vou atrás de um bebedouro: putz, tá quente mesmo!! Tem uma fila horrenda!

Não é lá hora pra ser uma metidinha, entra na fila, pô!

Meus olhinhos, trabalhando como os de uma especialista. Ouvi n' algumlugar, ou até li, que "todo especialista é um subalterno!". Ofende um pouco,e ademais, concordo. Sabe d'uma? Não é pelo meu tesão que existo? Então,pronto! Que mais que eu quero??

Mas eu disse que os meus olhos trabalhavam com especialismo...

Não te explicas mais nada, continua!

É que tinha um carinha a minha frente, era de uma turma mais adiantada, mas e dai? E eu tava olhando, sei que ele não percebeu, provavelmente preocupado por a fila não ser muito rápida. Tá, ele é mais velho, ponto pra ele! E...

Tinha uma bundinha, uhu! Ele nem nota, poxa! Esqueci que os garotos dessa idade... Deixam a desejar, literalmente...

Também, porra, olha só o tamanho desse campo de futebol: grama sintética sob uma clarabóia, uniforme novo e toda esta conversa que eles têm no intervalo, quando querem marcar um "bába"!!

Me irrito com isso, mas recuso a competir com um gramadinho de um lance que eu não entendo.

Mas merda, isso tá me cheirando a enrolação... Fala logo, fica ai parada,não! ACTION!!

Que nada, é que me prendi a um detalh... Bom, não é um detalhe, é uma boca rosa, linda e tão fresca, é quase como a água que ele tá tomando. Tinha chegado a vez dele na fila e, Deus, como posso achar tão sexy um cara tomando água no bebedouro? Ele nem percebe que é, ou que está.

Cara, vai lá e te faz perceber, quero ver isso!

- Com licença, você vai ficar ai o dia todo? Ainda quero beber água este ano!!

Merda, isso lá é maneira de se fazer notar??

Clarooo, você perdeu esta aula?? Meninas, primeiro: desprezem meninos!!!

Não sei se isso é muito inteligente, ainda mais para o contato que tu pretendes!!

Dá certo, é assim que terei a atenção dele.

Depende de tu garota, vai lá e convence, o palco é teu.

Gostei disso, palco é o termo, quero me divertir de qualquer jeito.

Não enrola, assim tu cansa.

Não me interrompe, então! Onde parei??

"Com licença" e.... parará!!

Ah, claro! Ele me olhou, levantou a cabeça para saber de quem se tratava tanta arrogância e um pouco de falta de educação.

Não, grosseria!

Adianto que a simpatia se formou, o que você queria?? Que ele me espancasse??

Eu não! Mas por que uma garotinha de farda, como todas as outras, e sendo grosseira?? O desdém parece mais próximo que simpatia...

É, talvez tenhas razão! Não fosse aparecer, como a um letreiro de neon, meu sutiã amarelo por baixo da blusinha branca da FARDA escolar...

Hã? Como?

Deu-me a vez de beber água. Aplaquei o calor. Antes, passei de leve o meu corpo nele, sutileza é a chave!

Desprezo com sutileza?? No mínimo você é doida, garota!

Tomei água e ele esperava. Meu rosto suscitava o desejo nele, todos os meus gestos...

- Gosta de poesia?

Meninos da escola sempre acham que a poesia é o caminho... deveriam usar de verdade, não impressionar decorando alguém, mas enfim, é só sexo, vou entrar na dele:

- O quê? Por que? Gosto...

E agora, meu deus?

Pára! Já pedi para não me atrapalhar, que coisa!

Pegou na minha mão, não me disse nada e não era mesmo hora. Pelo menos, não conseguia ouvir. Nos entendemos mesmo, a linguagem do corpo, saca? Pensei numa maldade: um ratinho, uma ratoeira com queijo e que diabos!! Meu sutiã berrando sob a blusa...

Poxa, anda!!

Tá. Vamos andando, nos afastando das regras, restam as fardas intactas! Quero dizer, ainda no corpo...

Putz!!

Passei a mão pelos cabelos, me entreguei.

Ah, já era! Mas não era guerra, era? Não sei por que, mas você fez entender que sim!!!

Não, não fiz...

Ele fez uma pergunta, era uma estratégia ruim, com outra não daria certo, mas eu queria era aquela boca com água - sem água, abrindo um sorriso para mim. Ele me entendeu, pô!

Sei... Continua!!

É, passei a mão pelos cabelos. Vi o sorriso dele, tava diferente. Diria que era quase inocente, não sei. Ele tava sem saída, mas ainda assim me mandou um fragmento da Florbela Espanca. Foi esquisito, Florbela me pareceu crítica, logo ela!

Talvez fosse tua consciência punitiva.

Um fragmento, já disse. Pedi que me beijasse antes de terminá-lo e atormentar mais, não era hora exata para Florbela ser assim. Daí minha boca achou a desculpa certa para passear pelo seu pescoço. As mãos dele na minha nuca. Não houve tempo, eis que o sinal toca. E quando ele toca o inspetor percorre a escola para procurar filantes. Não me podia deixar ser pega em flagrante. Não hoje.

- Vamos voltar, Laura? Quero ficar mais, mas...

- Outro dia...

É bom manter a esperança nos caras. Mesmo porque, vai que amanhã outras coisas além da farda, do calor e de uma fila me irrita...

Agora, passa a mão pelos meus cabelos e planeja um futuro. Eu, enfio a minha mão direita para dentro do bolso detrás da calça dele, belisco a carne, gosto de senti-la. Seguimos para nossas salas.