O texto a seguir foi retirado do site do Programa Alto Falante, completamente autorizado!! Thank you, James!
Magic Numbers, Lucas Santanna e Hurtmold; Festival Indie Rock, Circo Voador, Rio de Janeiro
25 de julho de 2007
Fotos e texto: Rodrigo James
Em plena época de Jogos Panamericanos, em que a torcida brasileira é considerada mal-educada por vaiar os atletas “inimigos”, uma demonstração como esta do título, por parte da platéia carioca, na espera pelo show do Magic Numbers, no primeiro dia do festival Indie Rock, poderia soar pejorativa e alvo de crítica. Mas quem conhece a banda e viu o público que se encontrava no Circo Voador na noite de quarta, dia 25 de julho, percebeu que os gritos foram extremamente carinhosos. E a banda retribuiu com um carinho de igual tamanho. Ou maior ainda, quem sabe.
Antes do Magic Numbers, a primeira noite do festival Indie Rock ainda apresentou duas boas atrações de abertura. Lucas Santanna faz um pouco de tudo em cima do palco: samba-rock, reggae, salsa, funk carioca disfarçado e até mesmo um pouco de eletrônica. À parte sua indecisão musical, seu show consegue empolgar e só não se transforma em um bailão por conta de sua curta duração. Já o Hurtmold, que veio na seqüência, começa seus shows já desconstruindo tudo, chamando a atenção dos que por lá passavam despercebidos, como se quisessem dizer: “ei, estamos aqui e olhem para nós”. Fosse o show em um teatro, teria sido perfeito ouvir as inflexões jazzísticas e das demais vertentes da música instrumental (indie?) brasileira. Ali, no palco do Circo Voador, pareceu deslocado. Mas não menos competente.
E aí voltamos aos Magic Numbers. Alguns minutos depois da meia-noite, a banda subiu ao palco e a primeira imagem que chamou a atenção foi o sorriso de Romeo Stodart, que parecia realmente feliz por estar ali, como ele diria mais tarde. Ao seu lado, sua irmã Michelle, que se não compartilha da mesma alegria esfuziante de Romeo em seus primeiros momentos, parece querer se concentrar e começar a tocar. Do outro lado do palco, Angela Gannon mal imaginava que se tornaria a grande atração da noite, enquanto lá no fundo seu irmão Sean conta "1, 2, 3, 4" e emenda a primeira da noite: “This is a Song”, que abre o segundo disco da banda, “Those The Brokes”.
Dizer que a banda é simpática seria cair num clichê clássico do rock and roll. Mas o clichê nem se aplica, porque o Magic Numbers é mais do que isto. Aquela outra palavra que você está pensando e que rima com "ovo" também se aplica ao quarteto, mas aí seria clichezar ainda mais este texto. O que importa é que a competência da banda foi colocada à prova e se saiu muito bem em todos os momentos. Sejam eles a execução dos grandes hits (“Mornings Eleven”, “Love Me Like You”, “Forever Lost” e “Take a Chance”) ou de músicas mais introspectivas, como “Slow Down (The Way It Goes)”. Um som simples, direto e delicioso aos ouvidos, capaz de agradar até mesmo quem jamais havia ouvido falar da banda. E podem ter certeza que muitos ali naquela noite se encaixavam nesta categoria.
O que ninguém imaginava – pelo menos não os que viam a banda ao vivo pela primeira vez – era que a estrela da banda não é Romeo Stodart ou sua irmã Michelle, mas sim a tímida Angela Gannon. Visivelmente emocionada e sem jeito com todo o carinho dispensado para com ela, Ângela arrancava urros, declarações de amor e até mesmo beijinhos de fãs mais esfuziados na primeira fila, cada vez que sua voz aparecia nos P.A.s do Circo Voador. E que voz! Angelical e única, Angela é uma cantora de primeiríssima estirpe e em canções como “Undecided”, - em que ela é o centro das atenções - brilha como poucas na seara pop. Além disto tudo, o show ainda teria "I see you, you see me", "Which way to happy?", "Love is just a game", "Long legs", "Hymn for her", "Anima Sola", "Boy" e até mesmo a cover da banda para “Crazy in Love”, aquela mesma da Beyoncé, dentre outras. Delicados, melódicos e coesos, os músicos do Magic Numbers deixaram o palco pouco depois das duas da manhã, cravando nos corações dos presentes pelo menos uma certeza: em meio à pasmaceira musical do mundo moderno, eles são um belo oásis. Ou, para cair em um outro clichê básico do jornalismo: mágicos.