Depois dos festejos momescos, que esse ano deram conta de palcos com música alternativa pela cidade, inclusive um novo de rock, no Rio Vermelho; eis as minhas andanças pelo que rolou nos últimos dois finais de semana:
Sexta, 15/02!
A banda Autoramas (Rj), atração gratuita do Projeto Pelourinho Cultural, fez a alegria de turistas, roqueiros e outros bichos da noite do pelô, com o show começado pontualmente às 21 horas. Era só o começo da noite pra mim. Tocando seus sucessos e algumas versões dos Ramones, a banda carioca se apresentou de forma enxuta e coerente, com direito a bis.
Corri pro Rio Vermelho. A promessa da noite ficaria a cargo de uma banda de rock, na Boomerangue. Sim, a banda era de rock, mas nada parecido, sequer foi lembrado. Retrofoguetes, ainda embalada por ótima performance do carnaval, no Palco do Largo da Pizza, promoveu a Retro Ressaca ao som de guitarra baiana e muita marchinha clássica do carnaval baiano dos melhores tempos.
Convidados pra lá de especiais animaram a noite. Luís Caldas apareceu sob a profusão de quase todos os seus hits, coisa de quando na Bahia, carnaval não era indústria. Ah, boa parte da família Macedo também subiu ao palco e não cansou de tecer elogios à anfitriã, agradecer o convite e de quebra deixar a Fubica à disposição. Outra convidada, Nancyta, cantou que era a filha da Chiquita Bacana, pela primeira vez eu senti o chão do segundo piso da Boomerangue tremer, literalmente.
Sábado, 16/02!
Acordei muito tarde, por isso não deu pra chegar a tempo de ver a apresentação da banda Matiz na Feira Hype.
No início da noite, em comemoração a 30ª edição, a Nave ainda não estava lotada como de costume. 23 horas e nada de fila na porta, mas a Dj Cássia já mandava ver na discotecagem de clássicos do rock n´roll mundial. Dos outros djs há pouca coisa a dizer além do também costumeiro: muito set parecido, música pras pessas dançarem e cantarem, quase nenhuma reação alucinada dos presentes.
Eu disse quase, porque não fosse a presença do Dj Buenas com seus trejeitos, caras e bocas; fazendo um som lindo (do que eu mais gosto, mesmo), plenamente energizado por projeções do filme do Joy Division; até o Gabriel (Autoramas) atacando na pickup com o som que todo mundo ouve em toda festa Nave, passaria sem destaque. Tinha um dj inglês no andar superior, que até fez de verdade a funçãode disk joquei e interferiu na sequência de algumas músicas, mas nada muito audaz ou que me fizesse balançar.
No fim de semana seguinte...
A noite de sexta, 22/02!
Programada pra começar às 19 horas (pelo menos é o que anunciava o cartaz), a festa no Rock Sandwich, ali no Rio Vermelho, defronte ao Bompreço, só foi ter início às 21:30. Sorte minha tomar conhecimento prévio de que a coisa só engrenaria depois das oito da noite. Além de esperar quase uma hora pela primeira banda, sofri tempo igual para saborear o forte da casa: o sanduíche. Bom, posso dizer que ele é realmente gostoso, que a decoração é agradável, mas o serviço...
Como saí de casa na paz de Jah, disposta a dar um saque nas bandas e porque tudo lá seria apenas o prelúdio da noite, não deixei que todo o contratempo me pusesse de mau humor. Acontece que a primeira banda a se apresentar, a Koyotes, não é bem aquele tipo de rock que eu mais gosto e outra, durante toda a sua apresentação, sofri muito com aquele vocal e algum outro elemento que parecia não estar bem conectado à banda.
A Koyotes tem um baixista, Tony Lopes na bateria, duas guitarras - uma delas encerra também o vocalista Miguel Cordeiro, além de um preciosíssimo tecladista. Bom, não sei o nome de todas as pessoas, mas deu pra sentir que a banda tem os pés no rock feito no início dos tempos. Nada de surpreendente ou magnânimo, rockezinho calcado no deja vu Marcelo Nova e Camisa de Vênus, Raul Seixas e contando com influência positiva de Chuck Berry. Tocando algumas músicas autorais, a banda se enveredou mais por covers e o que deu pra notar é que conseguiu agradar aos amigos e metade dos outros presentes, na medida em que irritava o público das outras atrações da noite que não coincidiam com as categoria anteriores.
Pra fazer uma aparição curtíssima por conta da apresentação da outra banda do baixista Bekko, noutro local, a Pessoas Invisíveis também não gozou de melhor aproveitamento neste show. O som estava sofrível e do vocal nada se entendia. Porém, uma figura conseguiu se divertir e expressar livremente a felicidade em estar ali. Nunca o vi noutro rock, mas o falso boato (e engraçado!) espalhado era que se tratava do pai de Thilindão, baixista da Honkers.
Expectativa maior pelo show da Berlinda, que recentemente se tornara destaque na página da Trama Virtual, porque eu ainda não os tinha visto com Juliano, o novo baterista e também pela excelência do ep Mar de Calma. Eu achei a melhor apresentação da noite, ainda que o som da casa não ajudasse muito ao seu powerpop. Uma amiga me deu a dica de que isto não fora "privilégio" daquela noite, portanto, de repente, redime-se as outras bandas. Quem sabe noutra noite, noutro lugar? Contudo, achei o vocal de André muito próximo do timbre de Brett Anderson (Suede) e deu pra ver caras novas cantando todas as músicas, gosto disso.
De lá voei para a Boomerangue para pegar a segunda edição de uma nova festa de rock da noite soteropolitana: Casa do Rock. Contando com a participação da finada (?) banda Os Mizeravão, a noite seria delineada pelos djs Sartô, Bigbross e Lionman, festejando o rock em todos os tempos. Como cheguei em hora avançada, não deu pra pegar a discotecagem de Sartorello e acabara de iniciar o show dos Mizeravão.
Não dá pra saber quem é o público desta banda, que insite em querer sumir do mapa do rock a cada apresentação, mas ele está lá e lota os lugares por onde há show deste escracho, formado por tradicionais nomes do metal baiano. A banda é uma grande brincadeira, mas une várias tribos e até quem geralmente não se enquandra nalguma, como disse, não dá mesmo pra formar um rosto que emblemasse os mizeraveiros. Subiu muita gente ao palco, maior clima de alegria que atualmente poucas bandas têm conseguido aqui. E ai o dia rasgou a noite, no horizonte dali do Rio Vermelho.
Sábado, 23/02!
Dia de Feira Hype Itinerante, projeto interessante, capataneado pela mente mais inquieta do mundo das produções culturais em soterópolis, atualmente. O evento costuma rolar nas tardes de sábado no ICBA, Corredor da Vitória, mas neste em particular, estacionou à Praça teresa Batista, Pelourinho. Ao ingresso foi estimulada a doação de livros, mas quem também fosse de paz, poderia chegar tranquilamente. Como atrações, além dos tradicionais expositores e suas banquinhas, a feira contaria com shows das bandas Los Canos (eu perdi!), Vandex, Theatro de Séraphin; assim como os djs: Big Bross, Elektra e Big T.
Pouca gente no pedaço, pude ver que o show de Vandex está cada vez mais exclusivo. Ele gritava, enlouquecia, pena que pra poucas respostas. Tá certo que peguei a apresentação já no finalzinho e que fiquei na vontade de mais, porém aquilo lá é pra poucos mesmo.
Dj Big Bross tacando os rocks lá nas pickups, aquela coisa legal de ensaiar passinhos e cantar junto, porque parecia que rock ali era coisa comum pra todos. Só um esquente para a presença da Theatro de Séraphin ao palco. Ai eu pergunto: esquente pra que mesmo?? A TS não é música pra fazer deprimir o ânimo e aguçar a sensibilidade?? É. Mas testemunho que funcionou: á hora do quarteto de rock triste se instalar lá, a praça estava mais cheia.
Acontece que aquele show ali, bem que podia ser feito dentro do meu quarto, porque é um lance de embalar sonhos, aliás, as músicas da banda vêm cheias de simbolismos oníricos e imagens de leveza e pureza. ganhei o ep deles (aguardem uma resenha mais significativa) e adianto que é coisa muito boa, uma proposta que se distancia de todo o rock feito na cidade, hoje.
Domingo, 24/02!
Tinha show da Mariella Santiago, mas quem disse que eu tinha perna pra acordar mais cedo que as 16 horas? O bom é que mais oumenos no final do dia tinha rock de massa pra curtir na Concha Acústica do teatro castro Alves. O Projeto Petrobrás de Música trouxe a boa filha de volta à casa: Pitty e para recepcioná-la, nada melhor que um show dos seus amigos, os Cascadura.
Show pontual, do jeito que eu gosto e que deveriam ser todos, a banda baiana Cascadura na sua melhor fase destila muitas músicas e pra meu deleite, totalmente acompanhada em côro por uma Concha quase lotadas. Um côro gritado, que se registre. Há algumas postagem me preocupei do excesso de shows que a banda estava investindo na cidade, mas veja que de repente, foi uma estratégia super positiva para quem não goza o apoio da mídia massiva. E botar, sei lá, umas 4 mil pessoas a transformarem suas músicas em verdadeiros hits de verão, se não me engano, não dá pra todo o casting de rock soteropolitano, né?
Sob uma histeria adolescente sem precendentes, Pitty é anunciada e dana a lançar seus hits de anacrônico. Parece estar bem ali, em casa, mais à vontade, tanto que dá até pra mesclar suas músicas falseando a versão em dub para uma musiquinha do Velvet Underground. Duvido que boa parte de quem tava ali deu-se a entender aquilo, para os fãs do fenômeno pop que é Pitty, é tudo como um culto.
A baiana deve ter tomado um susto de ver aquele espaço verdadeiramente tomado ao rock, não que não esteja acostumada a públicos até maiores, mas por se lembrar do tempo em que a antiga banda, a Inkoma, não conseguia arrastar tanta gente, por menor que o lugar fosse. Ah, e se sentiu grata aquele público, ao projeto e fez do show uma celebração também. Trouxe alguns amigos da terrinha pra cantar Amy Winehouse, AC/DC como Nancyta e Jorginho (King Cobra) e ainda ensinou à garotada em quantos guetos se subdivide o rock da cidade, ilustrando, por exemplo, que a sua Na Sua Estante estaria mais para um rock triste.
Para mais tarde, perdi uma grana no bolão do Oscar da família, logo este que foi até agora a edição mais "Indie" (por assim dizer) de todas. Sem comentários.